segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O tempo ... Ah! O tempo ...

Revi o filme ontem e me lembrei deste texto, publicado à época da estreia no cinema ...




Ensaio sobre o tempo
Patrícia Drummond

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
(AH! OS RELÓGIOS, de Mario Quintana - A Cor do Invisível )

Muito já se falou sobre o tempo. Caetano já dedicou a ele uma canção inteira; Renato Russo, no auge oitentista, cantou o tempo perdido; Fernanda Takai chamou-o de amigo e "mano velho" -- bem ao estilo dos anos 90. Na Literatura, Simone de Beauvoir escreveu sobre o tempo -- e a ambição, o poder, a imortalidade, o prazer, o destino e a transcendência -- em seu romance Todos os Homens são Mortais; Anne Rice, voltou ao tema na saga de seu imortal Vampiro Lestat.
Nós todos, a cada dia, o que fazemos, se não viver e correr contra o tempo, em todos os sentidos? É nele que (não) pensamos quando buscamos esconder, aqui e ali, um fio branco de cabelo, uma ruga no rosto ... Marcas do tempo! Arsenal de cremes e tratamentos, malhação e dietas desenfreadas e sem critério, em nome da saúde, quando, na verdade, o que se deseja, é evitar -- ou ao menos retardar -- sobre nós mesmos os efeitos do inexorável tempo ...
Fugimos dos hospitais, pouco encaramos nossos doentes mais próximos, abandonamos nossos idosos e passamos apenas rapidamente nas salas onde amigos velam seus mortos para não termos de refletir sobre o tempo ... O tempo que chega e que vai para todo mundo -- certeza única em toda a nossa existência.
Mas nada tão perturbador sobre o tempo quanto O Curioso Caso de Benjamin Button. Por quase três horas, a reflexão está ali, imposta, jogada na nossa cara em forma de poesia. O filme mostra, com delicadeza, que as perdas -- todas elas -- são inerentes ao tempo, e não há como lutar contra isso. Há um significado especial também para destino, coincidência, sina ou "colisão" (como sabiamente define o personagem de Brad Pitt), conceitos sempre atrelados ao tempo -- que se perdeu ou que se gostaria de recuperar.
Ao final, a reflexão vem como um soco no estômago: é preciso, mesmo, viver cada minuto como se fosse o último, um dia após o outro; e amar -- e dizer que se ama -- como se não houvesse amanhã; e carregar a alma e o coração de (boas) lembranças, porque é essa a única bagagem que dá para levar na nossa última viagem. O tempo é agora. Sempre. Sem pressa. E sem clichês. Porque pior do que ver o tempo passar -- incontrolavelmente --, pior do que envelhecer, é não ter lembrança de nada, é não ter memória, é não ter as marcas do tempo em uma história para contar.

Sobre comédias românticas ...

"... Para nós, humanos, o mundo das aspirações é tão importante quanto o da realidade. Vivemos em um mundo de referências culturais e psicológicas. Se erguemos dentro de nós um cenário de sonho, é fatal que ele seja comparado ao que se apresenta no mundo real, com resultados imprevisíveis.

Talvez o escapismo desses filmes exacerbe as nossas dificuldades com a realidade. Talvez alguns de nós sejam contaminados pelo romantismo das comédias e – mesmo sem saber - passem a vida esperando o par perfeito do cinema.

Ou então, de um jeito igualmente daninho, essas fantasias talvez nos façam olhar para as nossas relações reais com uma ponta de amargura e desapontamento – cadê a beleza perfeita, o humor perfeito, a diversão permanente? Acho que todos já sentiram alguma vez o retrô gosto amargo da fantasia cinematográfica.

Dito isso, é bom não exagerar na tese. As pessoas estão vendo filmes românticos no Ocidente há quase 100 anos e a taxa de natalidade (ainda) não se tornou negativa. No Brasil, milhões de pobres morenos assistem ao desfile diário de riqueza, arianismo e fantasia das novelas – todo mundo é rico, loiro e vive apaixonado – sem que isso tenha provocado ondas de suicídios coletivos.

As pessoas sabem separar realidade de fantasia, não são esquizofrênicas.

A minha experiência, porém, sugere que os mais felizes em qualquer meio são aqueles que vivem com os pés no chão. São aqueles que se misturam prazerosamente às pessoas e à realidade em torno deles, que fazem parte do cenário e atuam nele. Pessoas felizes vivem intensamente a realidade, não os filmes.

Quando se trata de casais, é o mesmo. Sempre tive impressão de que os melhores, os mais felizes, eram formados por pessoas práticas, capazes de olhar para a vida como ela é – e não como deveria ser num roteiro de filme ou num script de novela.

Quando se é capaz de amar pessoas reais no mundo real, é muito mais fácil ser parte de um casal duradouro. Românticos têm mais dificuldades. Para eles se inventou o mercado das emoções baratas. Para eles são feitas as comédias românticas. Elas são bacanas, enchem uma tarde, mas não deveriam realmente influenciar as nossas vidas."

(Por Ivan Martins, em 22/09/2010, na Revista Época on line)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sobre política, censura e democracia

Tô com a Dora Kramer e não abro: "A decisão do TSE que determinou a retirada do comentário de Arnaldo Jabor do site da CBN, a pedido do presidente Lula, até pode ter amparo na legislação eleitoral, mas fere o preceito constitucional da liberdade de imprensa e de expressão, configurando-se, portanto, um ato de censura". 

Li a colunista política no último domingo, no Estadão. Em outro trecho, ela diz: "Jabor faz parte de uma lista de profissionais tidos pelo Presidente Lula como desafetos e, por isso, passíveis de retaliação à medida que se apresentem as oportunidades!" ... É verdade. Todo mundo sabe que isso acontece. Em todos os cantos do planeta, em todos os sistemas políticos e em meio a governantes de todas as estirpes, siglas e faces - até mesmo entre aqueles que se autodeclaram 'democráticos' (aliás, principalmnete nesse caso, cachorro que late muito, morde muito também!) ...

Aqui em Goiânia, já teve prefeito de partido 'democrático e de luta' que já pediu a cabeça de jornalista ... 

Absurdo! Político tem que batalhar é pelo direito de todo mundo - indistintamente - ser ouvido. Ainda que o barulho venha do lado de lá, da oposição, e isso lhe custe alguns pontinhos a menos nas pesquisas eleitorais. Democracia de verdade - a que eu conheço e que eu quero para todos os cidadãos da Terra - é isso. O resto, é pura hipocrisia.

E, para quem quiser dar uma conferida no texto do Jabor - o que foi retirado do site da CBN -, aí vai:


A VERDADE ESTÁ NA CARA, MAS NÃO SE IMPÕE

(ARNALDO JABOR)


    O que foi que nos aconteceu?
    No Brasil, estamos diante de acontecimentos inexplicáveis, ou melhor,'explicáveis' demais.
    Toda a verdade já foi descoberta, todos os crimes provados, todas as mentiras percebidas.
    Tudo já aconteceu e nada acontece. Os culpados estão catalogados, fichados, e nada rola.
     A verdade está na cara, mas a verdade não se impõe. Isto é uma situação inédita na História brasileira!!!!!!!
    Claro que a mentira sempre foi a base do sistema político, infiltrada no labirinto das oligarquias, mas nunca a verdade foi tão límpida à nossa frente e, no entanto, tão inútil, impotente, desfigurada!!!!!!!!
    Os fatos reais: com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar no poder 20 anos!!!!
    Os culpados são todos conhecidos, tudo está decifrado, os cheques assinados, as contas no estrangeiro, os tapes, as provas irrefutáveis, mas o governo psicopata de Lula nega e ignora tudo !!!!!
    Questionado ou flagrado, o psicopata não se responsabiliza por suas ações. Sempre se acha inocente ou vítima do mundo, do qual tem de se vingar. O outro não existe para ele e não sente nem remorso nem vergonha do que faz !!!!!
    Mente compulsivamente, acreditando na própria mentira, para conseguir poder. Este governo é psicopata!!! Seus membros riem da verdade, viram-lhe as costas, passam-lhe a mão nas nádegas. A verdade se encolhe, humilhada, num canto. E o pior é que o Lula, amparado em sua imagem de 'povo', consegue transformar a Razão em vilã, as provas contra ele em acusações 'falsas', sua condição de cúmplice e Comandante em 'vítima'!!!!! 
    E a população ignorante engole tudo. Como é possível isso?
    Simples: o Judiciário paralítico entoca todos os crimes na Fortaleza da lentidão e da impunidade. Só daqui a dois anos serão julgados os indiciados - nos comunica o STF.
    Os delitos são esquecidos, empacotados, prescrevem. A Lei protege os crimes e regulamenta a própria desmoralização Jornalistas e formadores de opinião sentem-se inúteis, pois a indignação ficou supérflua. O que dizemos não se escreve, o que escrevemos não se finca, tudo quebra diante do poder da mentira desse governo.
    Sei que este é um artigo óbvio, repetitivo, inútil, mas tem de ser escrito...
    Está havendo uma desmoralização do pensamento.
    Deprimo-me:
    Denunciar para quê, se indignar com quê? Fazer o quê?'
    A existência dessa estirpe de mentirosos está dissolvendo a nossa língua. Este neocinismo está a desmoralizar as palavras, os raciocínios. A língua portuguesa, os textos nos jornais, nos blogs, na TV, rádio,tudo fica ridículo diante da ditadura do lulo-petismo.
    A cada cassado perdoado, a cada negação do óbvio, a cada testemunha, muda, aumenta a sensação de que as idéias não correspondem mais Aos fatos!!!!!
    Pior: que os fatos não são nada - só valem as versões, as manipulações.
    No último ano, tivemos um único momento de verdade, louca, operística, grotesca, mas maravilhosa, quando o Roberto Jefferson abriu a cortina do país e deixou-nos ver os intestinos de nossa política.
    Depois surgiram dois grandes documentos históricos: o relatório da CPI dos Correios e o parecer do procurador-geral da república. São verdades cristalinas, com sol a Pino.
    E, no entanto, chegam a ter um sabor quase de 'gafe'.
    Lulo-Petistas clamam: 'Como é que a Procuradoria Geral, nomeada pelo Lula, tem o desplante de ser tão clara! Como que o Osmar Serraglio pode ser tão explícito, e como o Delcídio Amaral não mentiu em nome do PT ? Como ousaram ser honestos?'
    Sempre que a verdade eclode, reagem.
    Quando um juiz condena rápido, é chamado de exibicionista'. Quando apareceu aquela grana toda no Maranhão (lembram, filhinhos?), a família Sarney reagiu ofendida com a falta de 'finesse' do governo de FH, que não teve a delicadeza de avisar que a polícia estava chegando...
    Mas agora é diferente.
    As palavras estão sendo esvaziadas de sentido. Assim como o stalinismo apagava fotos, reescrevia textos para contestar seus crimes, o governo do Lula está criando uma língua nova, uma neo-língua empobrecedora da ciência política, uma língua esquemática, dualista, maniqueísta, nos preparando para o futuro político simplista que está se consolidando no horizonte.
    Toda a complexidade rica do país será transformada em uma massa de palavras de ordem , de preconceitos ideológicos movidos a dualismos e oposições, como tendem a fazer o Populismo e o simplismo.
    Lula será eleito por uma oposição mecânica entre ricos e pobres, dividindo o país em 'a favor' do povo e 'contra', recauchutando significados que não dão mais conta da circularidade do mundo atual. Teremos o 'sim' e o 'não', teremos a depressão da razão de um lado e a psicopatia política de outro, teremos a volta da oposição Mundo x Brasil, nacional x internacional e um voluntarismo que legitima o governo de um Lula 2 e um Garotinho depois.
    Alguns otimistas dizem: 'Não... este maremoto de mentiras nos dará uma fome de Verdades'!


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Quando setembro chegar ...

 
 
“Quando setembro chegar o inverno terá acabado e o amanhecer virá me acordar, apressado. Não mais haverá folhas secas caídas ao chão, pois as cores, antes tímidas, voltarão em puro êxtase, bailando num festival deliciosamente provocante.

Quando setembro chegar o sol estará pleno, iluminando os mares do meu mundo. Uma brisa suave  teimará em bater de leve em meu rosto, desajeitando meus cabelos úmidos e pesados. Um aroma antigo se fará presente, trazendo consigo a quietude do meu ser. Quando setembro chegar eu serei todas as estações do ano ...”

(Texto de Ludmila Guarçoni)

Jornalismo

Está no blog O Xis da Questão, do professor Manuel Carlos Chaparro, doutor em Ciências da Comunicação e professor de Jornalismo na Escola de Comunicações e Artes, da USP: 

"Os acontecimentos são tantos, e tão interessantes sob o ponto de vista dos impactos aparentes, que o olhar jornalístico se deixou hipnotizar pelos encantos do que se passa na superfície agitada da Atualidade. E esquece que, abaixo o horizonte visível, e para além e aquém da materialidade dos fatos noticiáveis e noticiados, há um mundo de causas e efeitos, uma vitalidade inesgotável de energias e movimentos conflitantes, próprio dos processos culturais de viver e lutar. 

Claro que a superfície tem de ser olhada, e atentamente, com rigores até metodológicos. Mas o Jornalismo não pode perder a capacidade de fazer mergulhos de desvendamento dos conflitos ocultos, abaixo da linha do horizonte."